sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sobre a cultura da periferias

Devido as polêmicas atuais sobre a Mostra CASAS, este texto vem a calhar com a discussão gerada se a favela representa ou não as pessoas que moram nela.






SOBRE A LIBERDADE E O JURUNAS
Priscilla Brasil
Jurunas é um bairro historicamente anárquico, onde o poder público pisa/pisou muito pouco. A falta de algumas de algumas das instituições (falidas) que formam as sociedades ocidentais atuais (policia, escola, la-la-la) fez emergir uma sociedade LIVRE, que dialoga com o resto do mundo, mas em outras bases.
O pensamento complexo, o pensamento que se distancia dos binários de certo/errado, realmente EXISTE na cultura do Jurunas. A polarizacao das opinioes é quase inexistente e a tolerância é praticada muitas e muitas vezes ao dia, pela própria necessidade da coexistência. Compreensão popular para ALEM dos parametros do que o mundo considera ser politicamente correto. Por isso, lá é possível existir uma Leona Assassina Vingativa, livre do que os outros vao pensar, supergay, fazendo filmes com seu celular e assumindo um nome que ele escolheu (Tiffany Wilson) aos 10 anos. E como tal decisão só atinge a própria Tiffany, Jurunas a chama assim. Sem neuras, sem enormes discussões, apenas respeitando o espaço pessoal.
Por lá, as leis dos direitos autorais nao existem. A APROPRIAÇÃO da cultura do mundo simplesmente acontece – seja através da música que vira versao de tecnobrega, seja no programa pirateado do computador, seja na “releitura” de pintura da turma da mônica no muro da escolinha. Jurunas vai pegando o que interessa e remodelando de sua maneira, sem maiores reflexões sobre o que o mundo vai pensar sobre eles. O Jurunas nao se importa com opiniões externas: vai continuar sendo o Jurunas, de qualquer jeito. Sinceramente, isso é de uma liberdade impressionante.
E assim vão eles sendo solidários, tolerantes e compreensivos com as atitudes uns dos outros. Nos domingos, uma sucessao de posturas que poderiam ser consideradas erradas em qualquer outro lugar: som alto que leva todo mundo pras ruas, churrasqueiras postas nas calçadas fumaçando pra todo lugar, pessoas andando pelo meio das vias. E, nao, esses nao sao os problemas… as pessoas estao felizes. Elas sao LIVRES.
Nao sei o que pode ser mais moderno do que isso, nao.
E depois de tantas perguntas sobre os porquês de amar o Jurunas, a resposta: O JURUNAS ME ENSINA A SER LIVRE.
***Sei que virão muitos questionamentos sobre a violencia (o lado nao-resolvido da anarquia). Jurunas é um bairro de periferia e tem seus problemas. Só lembrando que eu nao estou falando sobre isso, mas sobre ser moderno e mente aberta, ok?

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